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Casos & Histórias

da AOTS e seus Associados

Você tem uma história interessante com a AOTS ou durante seu treinamento no Japão? Conte para a gente. Compartilhe essa experiência enriquecedora.

Encaminhe sua crônica pelo e-mail aotsrio@ymail.com e ela fará parte do nosso acervo.

A primeira história é contada pelo Engº Kisaburo Kamikawa, um dos fundadores da AOTS Rio e que foi o segundo presidente da associação após sua criação. Foi na época em que foi presidente que a AOTS Rio começou a ser conhecida além dos muros da Ishikawajima do Brasil, local onde trabalhavam os primeiros ex-estagiários da AOTS no Rio de Janeiro. Kika me mandou uma mensagem com o seu relato quase que como para exercitar a mente e rememorar fatos do passado. Ele me prometeu que vai enviar mais histórias. Confira a primeira!

"Bom diiiaaa Marcelo!!!

 

Akemashite Omedetou Gozaimassu!!!

Seria a frase a ser usada no dia 1º de janeiro, em que todos os japoneses, ao encontrar alguém, desejam um Feliz Ano Novo!!! Eu, devido ao DNA (Data de Nascimento Avançado), se deixar para depois, acabo esquecendo. Não é principio de Alzheimer.

Vou tentar aos poucos, lembrar-me de quando tivemos a ideia de fundar a "Associação Carioca de Ex Estagiários no Japão", se não me engano a primeira denominação da AOTS Rio, nos anos 68 ou 69.

Os primeiros estagiários no Japão, nos anos 60, creio que foram: Seito Higashi, Renzo Sonegheti, Nobuo Oguri, José Sílvio dos Santos, eu, Kisaburo Kamikawa, e Celio Taniguchi em 1962, seguido depois por Elizeu Takasi e outros.

No início, ficamos alojados em Komagome Fuji Mae cho 4-chome e a associação que nos acolheu se chamava Asia Bunka Kaikan. Logo em seguida foi formada a AOTS com novas instalações, que ainda funcionava em Komagome.

Lembro-me que na época a renda per capita nossa era muito próxima da dos Japoneses. Nós, como estagiários, tínhamos um salário equivalente a 45.000 Yenes que na época era o salário de um chefe de departamento na fábrica de motores de Aioi, local em que fiz o estágio por cerca de seis meses. Foi lá que, ao mesmo tempo em que eu aprendia a construção de motores, eu dava aula de português, para os futuros engenheiros e técnicos que viriam para o Brasil formar a Fábrica de Motores da Ishibras (engenheiros Makoto Kubota e Sohey Maruyama e os técnicos Kamei-san, e mais dois que não me lembro dos nomes e as respectivas esposas).

Foi nesta época que vi pela 1ª vez a cultura do shitake, num jantar oferecido pelo Sr. Kamei em Aioi, onde vi um tronco cheio de shitake no banheiro, ou melhor, no ofurô da casa humilde do Sr. Kamei. Foi também num dos jantares oferecido pela família do Engº Makoto Kubota, que o filho dele (Hiroshi), que tinha uns 4 anos, se acidentou queimando o dedinho e eu tinha no bolso um Band-Aid. Não é que o Sr. Kubota ficou admirado por nós termos o Band-Aid?

Veja você, o Japão dos anos 60 e o Japão de Hoje!!!!

Fiz esta pequena introdução para explicar como era a nossa relação com os japoneses, nesta época.

No ano que fundamos a Associação, já tínhamos cerca de uns 10 estagiários engenheiros da Ishibras. Mas todos “salary man” e não tínhamos nenhum apoio das autoridades brasileiras, devido à excessiva proteção ao Capital Nacional, pois estávamos trabalhando em uma empresa de capital estrangeiro!!! Nessa época, quem nos dava algum apoio era a Ishibras (permitindo que usássemos cópias heliográficas e o próprio malote de correio que a Ishibras mantinha com o Japão) e a AOTS, que acolhendo os engenheiros indicados pela associação, nos permitia cobrar algo que nos ajudava nas despesas, mas já nessa época, colocávamos dinheiro do nosso bolso para manter a Associação.

Se eu não me engano o primeiro presidente, e um dos fundadores, foi o Engº Nobuo Oguri, seguido por mim.

Enquanto que as Alumni de países asiáticos recebiam ajuda de entidades industriais em seus próprios países (tipo FIESP e FIRJAN) nós aqui não tínhamos nenhuma ajuda, por representar algo ligado a empresas de capital estrangeiro.

Lembro-me de um lance em 1979 em que o Ministro Calmon de Sá foi fazer uma palestra no Clube Americano em defesa do Capital Nacional. Nesta reunião todo o empresariado nacional paulista estava presente, e eu, Dr. Barbosa (Ishibras), Helio Ferraz (Mauá), Arthur Donato (Caneco), bem como o presidente da Emaq. Eu me levantei e fui lá ao microfone e disse: muito meritório Vossa Excelência defender o Capital Nacional, mas e nós, engenheiros, brasileiros que acreditando na política do governo, viemos trabalhar na Ishibras, somos diferentes dos brasileiros que trabalham na Villares, Bardella e outros? Porque ao invés de focalizar no capital, Vossa Excelência não focaliza mais na tecnologia? Fazer navios é bem diferente de produzir Aspirina ou Coca Cola!!!

O Ministro bateu na mesa e ficou "p..." e recebeu o maior aplauso dos empresários nacionais. Eu disse para mim: pronto vou ser despedido!

No dia seguinte, o Almirante Aniceto Cruz Santos que era Vice-presidente da Ishibras me chamou e eu disse aos meus subordinados: vou ser despedido.

Chegando à sala do Almirante, ele me perguntou: Kamikawa, o que você disse ao Ministro que eu não dou conta dos telefonemas que estou recebendo até do exterior? Eu disse ao Almirante, falei o que nós aqui na Ishibras praticamos; ou seja, para fazer bons motores e bons navios, mandamos para o Japão os engenheiros e técnicos para treinarem, para aqui chegando, fazê-los iguais ou melhores. Falei ainda mais: porque ao invés de perseguir o capital estrangeiro ele não enfocava mais na tecnologia!!!

Neste mesmo dia, em uma das páginas do Jornal do Brasil apareceu um artigo dizendo mais ou menos isto: Engenheiro Kisaburo Kamikawa, corajoso, enfrenta Ministro!!! Infelizmente o JB faliu e eu não consigo este artigo.

Bem por hoje é só. Continuarei este papo!!!"

Kika

 

N.E.: KIKA é o acrônimo de KIsaburo KAmikawa, como era conhecido por todos na Ishibras e fora dela também!

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